sábado, 7 de junho de 2008

Ridículas Cartas de Amor


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

4 comentários:

dgstudio31 disse...

Adoro esta poesia do Fernando Pessoa. Já li muitas e muitas vezes.

O desencanto do passar dos anos transforma a percepção da vida. Adormecidos, afastados, os sentimentos tornam-se ridículos, esdruxulamente enterrados no cemitério das lembranças.

Inocente disse...

Ridícula é a falta de amor.
Porém, ao escrever sobre o amor, tudo parece ridículo ante a falta de palavras para.

dgstudio31 disse...

É incrível a quantidade de interpretações que os bons poetas ou os bons poemas podem despertar.

Tudo isso me fez pensar em outro poema de Pessoa:

"AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

Fabio Allves disse...

Sr. Conejo!

Quando teremos mais textos???

Beijos

Fabio Allves